• Sidney Gaspar: médico e fotógrafo

    Data: 23/03/2015 | Categoria: Entrevistas | Tags:

    Sidney Gaspar é médico, especialista em psiquiatria e fotógrafo autodidata. Nasceu em Itapetininga, São Paulo, em 03/11/1955. Atualmente, mora em Santos, SP.

    Em entrevista, com uma fluência própria de quem transformou em unidade ambas as tarefas, ele nos conta um pouco sobre o seu trajeto:

    Obrigada, Sidney, por aceitar o nosso convite e estar aqui, no site, expondo os seus belos trabalhos. Como e quando teve início o seu interesse pela fotografia?

    Obrigado, Denizi, por prestigiar essa parte lazer e prazer da minha vida. Esta é a primeira vez que exponho em uma galeria de arte virtual; obrigado pela oportunidade!

    O meu interesse por fotografia vem desde o início da adolescência; meu pai tinha uma Kodak com fole e eu gostava de olhar pelo retângulo que servia para definir a composição das imagens.

    Aos 12 anos você tirou sua primeira foto. Em que circunstância isso ocorreu? Você tem essa foto?

    Durante uma visita ao parque Fernando Costa, em São Paulo, eu pedi ao meu pai para tirar uma foto onde apareciam ele, minha mãe e meu irmão. Essa foto está num álbum da minha mãe e, por ser a primeira, me parece boa. E agora, também em exposição na http://www.pessoabonita.com.br/artista.php?id=77&tipo=2

    De onde vêm as suas influências? Qual a sua principal fonte inspiradora?

    A natureza e a arquitetura. Durante muitos anos eu evitava fotografar pessoas; de tempos para cá não faço mais isso. Sempre gostei de fotografias com muita cor ou muito contraste e admiro alguns fotógrafos como os santistas Ernesto Papa, Tadeu Nascimento e Araquém Alcântara, o argentino Alejandro Chaskielberg e o americano Bryan Peterson, entre outros.

    Em que ponto o seu olhar médico, influenciado pela psiquiatria, converge para a experiência fotográfica?

    Creio que no detalhe, fundamental na medicina e na fotografia. Como psiquiatra, me acostumei a ver os detalhes do drama humano, como cada detalhe tem um sentido e como esses sentidos, assim como a fotografia, representam um momento onde um receptor (uma câmera ou uma pessoa) captam uma cena, uma informação ou uma imagem.

    Como se ajustam a psiquiatria e a fotografia no seu cotidiano?

    A psiquiatria me consome muito tempo, mas para qualquer lugar que eu vá eu levo meu equipamento fotográfico; costumo dizer que sou um fotógrafo acidental, passo por cenas e muitas vezes consigo fotografá-las ; não tenho muito tempo para preparar uma situação fotográfica, raras vezes faço isso.

    Numa época em que o valor dos objetos tende a superar os valores humanos, o que os “detalhes” do seu olhar têm a nos dizer?

    Sim, vivemos uma época em que nos sensibilizamos pouco pelo drama humano, e creio que passamos por um dos momentos em que isto se tornou gigantesco. Estamos mais frios, utilizando muita tecnologia na comunicação, mas não conseguindo escapar dos grandes dilema, como o medo da solidão, da morte, de não realizarmos os nossos sonhos, de não sermos livres ou felizes. Escuto essa dor todos os dias, tentando mostrar, aos meus pacientes, que a possibilidade do belo, da felicidade, pode vir das coisas simples, como um olhar para um pôr de sol. ou um caminhar por uma praia; mas também procuro mostrar que essa possibilidade precisa vir acompanhada de outros humanos, pois para dar sentido às nossas buscas, precisamos ser vistos, sentidos, curtidos, assim como precisamos ver, sentir e curtir o outro, o mundo que nos cerca, com todas as suas nuances. Creio que minha fotografia expressa um pouco isso; o belo em seu sentido mais amplo, que está em toda parte, nos detalhes mais simples, que precisam ser percebidos, melhor vistos e aproveitados”.

    Para finalizar, uma pergunta enviada pelo fotógrafo Antônio José Moura CALINO: “A qualidade das suas fotos é excelente. Você fez algum curso de aprimoramento em qualidade de imagem, tipo photoshop, lightroom ou HDR?”

    Calino, eu sou absolutamente um autodidata que aprendeu a fotografar na prática, lendo revistas especializadas, sites de fotógrafos, vendo detalhes nas fotos daqueles que vivem dessa arte, como você. É muita tentativa e erro. De uns anos para cá, tenho equipamento e lentes melhores, o que ajuda na qualidade. Só sei trabalhar com alguma desenvoltura no lightroom; aprendi vendo tutoriais na internet. No photoshop, eu não consigo fazer nada. Mas espero aprender a usá-lo, pois creio ser útil na pós-produção. Quanto ao HDR, eu programo a máquina dessa forma e bato algumas fotos. Dessas fotos na exposição, tem duas em HDR (um por do sol em Sagres e o Porto durante o dia). Gostaria muito de fazer um workshop com o Araquém Alcântara e aprender um pouco mais de composição e também algo sobre a pós-produção.

    Obrigada, Sidney, mais uma vez, por nos enriquecer com o seu conjunto de obras e suas reflexões tão sensíveis.

    Visite a exposição! http://www.pessoabonita.com.br/artista.php?id=77&tipo=2