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APRENDENDO COM O JOSÉ…
* Por Denizi de Paula Oliveira.
Houve época em que era frequente a perda de grãos estocados em silos, no Brasil.
A cada alerta me vinha uma sensação ruim, pois eu fazia uma analogia entre o desperdÃcio desses grãos, e o que era feito com os cérebros, no nosso paÃs.
Considero o José, há anos porteiro no nosso prédio, um dos inúmeros exemplos desse desperdÃcio.
Discreto e solidário, ele teve papel importante no meu longo e debilitante perÃodo de Mielite Transversa. Sempre solÃcito, a cada avanço nos limites dos meus movimentos, enxergava compaixão em seus olhos. Comovido, foi o primeiro a correr para dar-me um abraço, quando me viu, por meio das câmeras, caminhar firme e confiante até o carro, tal qual uma criança feliz ao exibir seus primeiros passos.
Tudo pareceria ajustado à sua função, não fosse ele dono de uma pró-atividade e habilidade invejável.
Incomodado com a altura da cadeira da guarita, fez outra com sobras de madeiras de rodapé, jogadas fora por uma vizinha.
Sem nenhuma ferramenta e lugar adequados, criou uma peça ergonômica (ajustada à sua altura), desmontável, e com muito bom acabamento.
Disse que tinha feito outras peças, com as sobras das obras de outro vizinho… Curiosa, pedi que enviasse fotos. Veja algumas!
Conclusão:
Os silos estocam os grãos.
O mundo estoca cérebros.
Os silos desperdiçavam os grãos.
O nosso paÃs continua a desperdiçar cérebros.
Não tem como não me sentir incomodada com essa constatação, e não me empenhar para, de alguma forma, contribuir para que esse frustrante e injusto processo se reverta.