• Com mais de Trinta

    Data: 14/03/2011 | Categoria: Livre | Tags:

    Quem viveu na década de 70 deve se lembrar da música “Com Mais de Trinta”, composta e lançada, em 1971, pelos irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle. Nela dizem que não devemos confiar em quem tem mais de trinta anos, mais de trinta ternos, mais de trinta vestidos… Na época, ainda longe dos trinta, achei a letra um tanto radical, talvez temerosa por fazer parte de um grupo não confiável quando alcançasse o marco sugerido. Hoje, bem além, compreendo melhor o que diz.

    Para que me entenda preciso lhe dizer que tenho uma irresistível atração por crianças, uma espécie de encantamento pela forma sábia e inteligente com que conduzem e expressam sua criatividade e seu raciocínio. Nelas deposito os meus sentidos mais atentos e na fonte que transbordam me reabasteço, agradecida, repetidas vezes. Por isso me incomoda a forma inconsequente com que grande parte de nós adultos, quer seja pela ação ou pela omissão, teima em lidar com elas. Ninguém nasce adulto, então fico me perguntando em que ponto do trajeto instala-se em nós o desvio, das virtudes e da memória.

    Criança é presa fácil, o que facilita a manipulação, o assédio, e justifica a perda. Falta-lhe autonomia. Falta-lhe astúcia para avaliar as ardilosas tramas da teia.

    Mas ontem uma criança de oito anos, e inteligência aguda, em parte me contradisse. Afirmou que não gostava de ir à escola estudar, que se sentia ansiosa e USADA (sim, foi essa a palavra). Perguntei apreensiva se gostava de aprender; sem vacilar respondeu que sim. Senti um alívio. Quanto ao verbo considerei ser possível um equívoco na escolha. Usada? A despeito das minhas dúvidas manteve-se categórica; não abriu mão da palavra.

    Então refleti que cada vez mais e precocemente elas são pressionadas a absorver informações, competir, cumprir metas e exibir resultados. Roubam-lhes o direito de pensar livremente, de usar a intuição e de preservar valores que lhes são natos. Roubam-lhes tempo. Tornaram-se lucrativas, tornaram-se alvo. Além de brinquedos, fraldas, iogurte… Vendem grifes famosas, produtos de beleza… Vendem tudo e são induzidas a comprar tudo… São usadas.

    São usadas? Calma aí! Então ela não se equivocou na escolha do verbo. Identificou as ardilosas tramas da teia. Intuitivamente, casualmente ou sabiamente… Quem sabe?

    Vi luz no fim do túnel.

        Uma ótima semana pra você!

        Abraços,

     

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