• Saúde Pública e Ética

    Data: 05/12/2011 | Categoria: Livre | Tags:

    Na última sexta-feira o telejornal Bom Dia Brasil, rede Globo, exibiu matéria com o título: “Médicos não Cumprem Horário de Trabalho na Rede Pública de Saúde do Rio de Janeiro”.

    Na reportagem, uma pediatra atende em seu consultório particular no mesmo horário em que deveria estar atendendo no hospital público, onde atua como plantonista concursada, assalariada e com estabilidade no emprego.

    Após 07 horas e 34 minutos de atraso, dirige-se à sala da direção. Minutos depois a chefe do setor, também médica concursada, e amparada pela estabilidade, afirma não ver problema na conduta, já que ela havia comunicado previamente que atrasaria, havia uma equipe capaz de dar suporte à sua ausência, e o plantão estava tranquilo.

    Interpelada, a presidente do Conselho Regional de Medicina, entidade de classe responsável pelo cumprimento ético e disciplinar do exercício da profissão, admite tratar-se de uma situação antiga, em que “o governo finge que paga e o médico finge que trabalha”. E continua: “É uma conversa velha; se quiserem implantar ordem na casa, eles implantam, e aí eles vão ter que pagar direito”.

    Ao valer-se do argumento da baixa remuneração para isentar os profissionais de qualquer responsabilidade ou dever ético, ela demonstra subestimar a essência dos fundamentos que norteiam a prática médica, desestimula os bons profissionais (que não são poucos), expõe em rede nacional um mau exemplo aos estudantes de medicina, e fomenta (embora aparentemente sem ter consciência disso) o caos cronicamente instalado.

    Também entrevistado, o gestor técnico do Governo do Estado admite o baixo salário, mas, pragmático, não o aceita como desculpa para o descaso, já que, quando opta pelo concurso público, o médico conhece as regras, que inclui o cumprimento de horários e o valor salarial a receber, não sendo cabível aceitá-las e, a seguir, descumpri-las.

    Em meio ao fogo cruzado, o paciente, fragilizado e à deriva, sem direito e poder de voz, é tratado com o mais absurdo e desumano descaso. (ler postagem de 17/12/2010, Categoria Livre - Obrigada Senhora!)

    Na cúpula, o governo, refém de interesses e manipulações com teor meramente político, desvia o foco da ineficácia administrativa e persiste no argumento da falta de verba como principal justificativa para a inoperância… Há que se criar um substituto para a extinta CPMF.

    À margem, a sociedade injeta, através de exorbitantes taxas de impostos, os recursos financeiros necessários ao adequado funcionamento do sistema. Entretanto, votamos, elegemos, delegamos poder, pagamos caro, mas não fazemos nossa parte como deveríamos, incluindo cobrar, com necessária e justa veemência, os resultados devidos. Embalados pelo “hino” do Zeca Pagodinho, deixamos a vida nos levar… E ela vai-nos levando!

    Trata-se de um processo vicioso, onde cada qual com sua parcela de responsabilidade, reclama e persiste nos mesmos erros.

    Nesse quadro, onde predomina o “sem noção de valores”, torna-se urgente rever conceitos aplicáveis na construção responsável de novos paradigmas, capazes de alcançar, efetivamente, melhores resultados.

    Difícil imaginar recurso mais apropriado que a Ética, desde que saia do discurso, se processe na inteligência e se concretize nas ações. Afinal, seja qual for a posição que ocupamos, somos todos, sem exceção, vítimas ou beneficiários dos sistemas que nós mesmos, direta ou indiretamente, fabricamos.

    Fontes:

    http://g1.globo.com/videos/bom-dia-brasil/t/edicoes/v/medicos-nao-cumprem-horario-de-trabalho-na-rede-publica-de-saude-do-rio/1716666/

    http://g1.globo.com/videos/bom-dia-brasil/t/alexandre-garcia/v/medicos-nao-comparecem-para-atender-pacientes-em-hospitais-publicos/1716679/

        Uma ótima semana para você!

        Grande abraço,