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O país que fazemos é o país que queremos?
Por *Denizi de Paula Oliveira
Circulando pela “Cultura Literal” me deparei com um artigo, escrito por Rafael Araujo, em que aborda o episódio recente da mulher espancada até a morte. Nele, critica os meios de comunicação de massa por associarem o absurdo da prática ao fato da mulher ser inocente, e não ao fato de pessoas insanas decidirem fazer justiça com as próprias mãos. Prestam um desserviço à humanidade, ele diz, quando reforçam ideias danosas, como a de que o Estado e as Instituições são inúteis.https://www.facebook.com/rafael.araujo.146612/posts/10202857432734503
Por enfatizar a importância do Estado e das Instituições, acabei refletindo mais sobre isso.
Quase nenhum dos sistemas públicos no nosso país funciona com eficácia, seja de educação, saúde, segurança, legislativo… Judiciário. E é exatamente por não serem inúteis, mas imprescindíveis, que precisariam funcionar bem, e com total qualidade.
Mas, quem opera boa parte desses sistemas são pessoas que, direta ou indiretamente, colocamos lá. Parece incrível, mas elegemos nossos representantes e não acompanhamos o que fazem com o poder concedido. Votamos e “lavamos as mãos”, como se a administração do país não exigisse a nossa vigilância e responsabilidade. É como contratar alguém para cuidar da nossa casa e deixá-la, mesmo que nos cause enormes prejuízos, livre para gastar e executar os serviços como bem entende.
Trata-se de uma sequência integrada de falhas, culminando em um processo corrosivo e vicioso: educação deficiente, dificuldade em assimilar e articular informações, senso crítico mal elaborado, escolhas equivocadas, práticas desastrosas, consequências também.
O fato é que o Estado e as Instituições públicas existem para serem úteis, e se não cumprem com esse dever contribuem, sim, para que o caos se instale. Também é indiscutível que precisamos votar com mais consciência, acompanhar as ações dos eleitos e estar atentos a tudo que possam gerar, de bom ou ruim, aos sistemas e instituições que nos servem. Se não cumprimos bem com o nosso dever, somos coautores do caos, e arcamos com as consequências.
As histórias de violência crescem e são cada vez mais dramáticas. E se não é isso o que queremos, precisamos contribuir para a ruptura desse processo, já que o país que queremos precisa estar coerente com o país que fazemos. O caminho não é simples e as respostas não são rápidas, mas pode ser um bom começo lamentar menos e agir com mais consciência, fazendo cada vez mais e melhor nossa parte.
Faltam poucos meses para as próximas eleições. Eis aí, pertinho, uma boa oportunidade.
*Denizi de Paula Oliveira é médica, anfitriã e mentora do programa Belas Conversas, no Espaço Pessoa Bonita