• TOMMY & CIA – ARTE EM GRAFFITI

    Data: 13/06/2011 | Categoria: Entrevistas | Tags:

      

     

     

     

     

     

    GRAFITE é uma palavra de origem italiana e traduz uma arte que se expressa desde o império romano como inscrições caligrafadas ou desenhos pintados ou gravados sobre uma superfície de parede ou similar.

    Incluída no âmbito das artes visuais, mais especificamente arte urbana, manifesta-se predominantemente nos espaços urbanos, interferindo intencionalmente na imagem das cidades.

    Tanto no Brasil quanto em outros países frequentemente é confundida com pichação, o que gera grandes controvérsias, já que esta tende a ser vista como vandalismo e contravenção, sendo aplicada como escritos ou rabiscos em superfícies como paredes, muros, chão e monumentos públicos, com frases de protesto, insultos, declarações de amor, assinaturas pessoais, ou simplesmente demarcando territórios entre grupos, utilizando tintas em spray ou em rolo, de difícil remoção.

    Em alguns idiomas a palavra graffiti designa os dois tipos de manifestações, o que favorece a dúvida e alimenta a controvérsia. (Fonte: Wikipédia)

     Hoje inauguramos na nossa Galeria de Arte a exposição das obras em grafite do artista TOMMY (Roberto Teixeira Ribeiro Junior), de Volta Redonda, cidade do Estado do Rio de Janeiro, algumas em co-autoria com os artista  Rfire, Tura, End, Dejah, Break e Kajaman. Na entrevista abaixo ele nos falará um pouco sobre o seu trajeto, ajudando-nos a compreender melhor essa bonita, peculiar e ousada forma de expressão. Leia!

    É um grande prazer estar com você aqui, Tommy, e poder exibir esses belos trabalhos. Quando e como foi despertado em você o interesse pelo grafite?

    O meu contato com o grafite foi despertado a partir da vivência com outras práticas artísticas, como pintura e artesanato. Na época do colegial experimentei o spray praticando algumas pichações, e o apego a esse material foi surpreendente, o que me levou a buscar mais informações e conhecimento sobre o assunto. Na época recursos como revista, livros e internet, assim como o contato com os artistas mais experientes, era muito restrito.

    Embora quase sempre tida como contravenção, muitos grafiteiros famosos trazem em sua história, assim como você, a prática da pichação. O que tem a nos dizer sobre isso?

    Opiniões diversas também são geradas no meio artístico dos grafiteiros; uma delas é que a pichação não deixa de ser uma arte, um estudo, apesar do rótulo de vandalismo como assim entende a sociedade. Particularmente não defendo o ato, mas sim o estudo a esse respeito. Como você mencionou, grafiteiros famosos tiveram essa prática, e ainda hoje conheço muitos que a adotam. Nos anos 80 e 90, podemos dizer que quase todos os grafiteiros tiveram esse contato com a pichação como ato de protesto; já nos dias de hoje notamos que a maioria dos artistas que estão se inserindo nesse meio, quase nunca tiveram essa experiência; grande parte dos novos artistas surge de oficinas, eventos nos quais eles se deslumbram não pela pichação mas sim pelo grafite como arte e forma de ganhar a vida.

    Sabemos que realiza projetos de grafite para prefeituras. Qual a razão desses projetos e como acontecem?

    Antes não gostava muito de trabalhar para prefeituras, pois em geral nos propunham serviços que apenas davam visibilidade, sem haver uma preocupação com a qualidade e a formação das pessoas. Com o passar do tempo e tendo esses projetos como uma fonte de renda, pensei em continuar fazendo, mas dentro de uma proposta que não entrasse em conflito com a minha visão e os meus objetivos; foi uma “briga” muito grande conseguir mostrar que desses projetos podem sair pessoas com dons surpreendentes, sejam eles artísticos ou até mesmo políticos. O meu objetivo maior com esses projetos é proporcionar às pessoas um aprendizado através da vivência desse recurso, lembrando que sempre nos deparamos com crianças que dificilmente teriam algum contato com esse tipo de arte. Não gosto de formar opinião, mas sim de auxiliar essas pessoas a desenvolverem suas próprias opiniões, já que grande parte do nosso público alvo são crianças e adolescentes.

    E como se manifesta a receptividade dos alunos na prática do grafite através de oficinas nas escolas?

    Trabalhar com criança é uma forma de você esquecer problemas pessoais, esquecer dívidas rss, e algumas outras dificuldades. Uma grande parte das escolas de Volta Redonda tornou-se adepta a disponibilizar isso para as crianças; não posso responder o retorno que cada escola tem com os projetos, porém o meu retorno é cada dia diferente, é vibrante, é de orgulho em saber que crianças saem de casa para simplesmente brincar e aprender na aula do tio do grafite. Trocar conhecimento com esse público é uma coisa que fortalece cada dia mais o meu conceito sobre arte e sobre o meio em que vivo. Quando vamos apresentar o projeto para as crianças, de cada 30 alunos dentro da sala de aula, 31 querem participar das aulas; acho que isso responde um pouco, certo? rss. Claro que cada aluno absorve o que quer e da forma que ele quer, embora a apresentação didática seja igual para todos, mas é muito gratificante ver o retorno de cada projeto.

    Considerando o preconceito que ainda há em relação a essa arte. Como você lida com isso?

    Quando eu comecei a grafitar em Volta Redonda no ano 2000, em qualquer muro que eu estivesse trabalhando era sujeito a repressão de policiais e até de alguns moradores. Já tive que apagar muito trabalho pronto, e é um gasto muito grande de material, que é caro e quase sempre sai do nosso bolso. Depois de alguns anos, o grafite foi tomando um rumo diferente na cidade, a maioria das pessoas que passa por nós na rua na hora em que estamos trabalhando, observa e diz: – Olha os meninos do grafite ali! Ainda ouvimos alguns dizerem que são os pichadores, mas isso está mudando, já não é a grande parte, pelo menos aqui na região. No dia 26/05/2011 foi publicado no diário oficial da união uma Lei sancionada pela presidente Dilma Roussef que diferencia a pichação do grafite, o que foi uma boa conquista.

    O grafite para você é uma paixão que se tornou um ofício. Como o mercado recebe esse “produto” na atualidade? Em que segmentos ele é mais requisitado?

    Hoje o grafite dita moda, seja ela têxtil, seja com exposições, ou como decoração de ambientes. Muitos trabalhos vêm sendo desenvolvidos por grafiteiros; grandes empresas estão trabalhando em parceria para fornecer ao público aquilo que ele mais consome. Alguns artistas, de Volta Redonda, saíram e foram morar na capital por conta de trabalho; desenvolveram estampas para empresas como CANTÃO, RESERVA, TACO, entre outras. Eu ainda não tive o interesse e a oportunidade de trabalhar com essa área têxtil em grandes empresas; tive apenas alguns trabalhos realizados para a CLARO TELEFONIA, com a criação de adesivos para celular. Hoje, aqui e em outros países, o segmento mais requisitado é o têxtil; criação de estampas para camisas, calças, meias, casacos, tênis, chuteiras, chinelos e outros.

    Que materiais vocês habitualmente utilizam?

    Spray – Tinta látex – Rolo de pintura

    Tratando-se de uma prática aplicada em superfícies (paredes, muros, etc.) que geralmente pertencem a outras pessoas; como se processa a permissão ou concessão de uso?

    Conversando… Chegamos a uma determinada residência com um muro que nos agrade e oferecemos nossa pintura. Alguns anos atrás era quase impossível conseguir um muro para pintar, hoje é quase tudo mais acessível; alguns já nos relataram que ficavam contando para pedirmos o muro deles.

    Como prefere executar seus trabalhos, em grupo ou individualmente? Por quê?

    Prefiro trabalhar em grupo, pois a atividade compartilhada acrescenta conhecimento; trocamos informações o tempo todo; reforça os vínculos de amizade e nos diverte.

    O que mais inspira o seu processo de criação?

    Cor e forma; gosto de elementos ornamentais e abstratos. Gosto de estudar Art Nouveau, e sempre ler obras de artistas nacionais; gosto da forma cultural que Carybé retrata seus trabalhos, gosto da composição de formas da Tarsila do Amaral.

    Nos trabalhos em grupo como se dá a escolha do tema a ser abordado?

    Se dá no dia e na hora… rss; vai de acordo com o que cada artista possui de material no momento, aí sim propomos um tema em conjunto. Na maioria das vezes usamos um repertório de criação individual, cada um pensa no seu trabalho, porém pensando também nos recursos que o outro artista possui. É difícil propormos um tema grande e antecipadamente por conta de material; spray é muito caro, e produzir uma temática leva tempo e muito gasto, em geral custeado por nós mesmos.

    Muito obrigada pela entrevista, Tommy! Parabéns a você e aos seus colegas pelo belíssimo trabalho que nos apresentam.

    Vá ao www.pessoabonita.com.br e visite a exposição!

    * Para ler e postar comentários, clique sobre o título.